segunda-feira, 25 de julho de 2016


"Teias de aranha. [...] Teia de aranha. [...] Curioso como se assemelha aos desenhos de certas mandalas. Espaço mítico. Homem também cria espaços míticos, por que não aranha? Cidades, por exemplo. A princípio, sonho de homem, lugar onde pôr para fora deuses e demônios, mas depois cidade física prende, homem fica como inseto em teia de aranha." (p. 109)

Mario Levrero, "Deixa comigo"
{tradução Joca Reiners Terron}

terça-feira, 19 de julho de 2016


“ando numa boa e na vadiagem mais uma vez & nada tenho a fazer senão perambular” (p. 14)

“tudo é um grande e estranho sonho” (p. 52)

“A via férrea se revelava por inteiro, cada vez mais vasta e vasta, [...] muito além dos limites do mundo, e também perfura um buraco profundo na mente de um homem” (p. 91-92)

“o espectro e o horror de um homem que outrora foi um bebê rosado e agora é um fantasma aterrorizante na enlouquecedora noite surrealista das cidades, rostos esquecidos, dinheiro jogado fora, comida jogada fora, bebidas, bebidas, bebidas, as milhares de conversas ruminadas na obscuridade.” (p. 114)

“Na América houve sempre [...] uma ideia especial e definida da liberdade que significa andar a pé [...] se deslocando de cidade em cidade, de estado em estado, em direção à eventual sina dos becos periféricos das grandes cidades quando seus pés entregam os pontos.” (p. 208)

KEROUAC, Jack. Viajante solitário. L&PM, 2006.
[tradução de Eduardo Bueno]

quinta-feira, 14 de julho de 2016


“[...] pulsação rítmica evocando os ritmos próprios da vida, a metáfora do batimento primordial do coração e do sexo, o beat essencial. [...] forma livre, improvisada, improvável [...]” (p. 53)

“Paixão pela palavra, pela imagem, pela prosódia musical, paixão pelo sexo, sacralização do instante presente, errância no esoterismo da tradição que é a terra amassada do passado, de tudo isso a geração beat está carregada.” (p. 87)

“[...] a dura lei da viagem tal como tinha imaginado: despesa mínima, recurso à carona ao acaso, partilha das horas com desconhecidos, mas, sobretudo, liberdade e disponibilidade em busca da pulsação viva da América.” (p. 105)

“[...] suas viagens reais não são senão coleções de miniacontecimentos e manifestações de pouco risco. Não têm a envergadura das que serão empreendidas por Burroughs e Ginsberg, que aliarão deslocamento geográfico, sedentarização longe dos Estados Unidos e experiência interior.” (p. 115)

“De início é sobre os mapas que ele começa, é através dos relatos que ele viaja.” (p. 117)


BUIN, Yves. Kerouac. L&PM, 2007.
[tradução de Rejane Janowitzer]

quinta-feira, 7 de julho de 2016


“por sonhos se entenda o que se enxerga durante o sono – e não o que se deseja nos devaneios diurnos.” (p. 69)
“Tão vastos e intemporais, os acontecimentos brotam de algum centro mais intenso, formando vagos pontos distantes, só para serem encontrados de novo, quando os núcleos e os universos se deslocam para outros sonhos.” (p. 73-74)
“que coisa mais estranha a realidade do mundo desolado e infinito, que não tem destino, significado, nem centro” (p. 77)
“A América [...] é em si mesma um sonho” (p. 129)
“O centro do interesse do sonho só pode ser recapitulado uma vez e por isso também só dá para ser transcrito em seguida [...] porque, ao lembrar e anotar mentalmente, o cérebro logo entorpece e não é mais possível agilizá-lo” (p. 133)
“tudo, tudo irreal, sonhos” (p. 137)
“num cérebro momentaneamente em repouso indigente” (p. 139)
“por algum motivo [...], a coisa toda não consegue chegar em detalhe à minha percepção” (p. 141)
“os sonhos mais fantásticos, e complexos, são irrecuperáveis para o cérebro comum que acorda de manhã” (p. 168)
“O inseto provavelmente era eu.” (p. 168)
“AO ANOTAR OS SONHOS, REPARE NA MANEIRA COMO A CABEÇA SONHADORA INVENTA” (p. 175)  
[tradução de Milton Persson]