terça-feira, 26 de abril de 2016

NOVO SONHO


O sonho me pareceu longo mas foi bastante repetitivo, podendo por isso ser descrito em poucas linhas. Estou na frente do computador, cuidando de apagar uma por uma todas as postagens do meu mural que tenham a ver com a crise política e deixando no ar apenas aquelas relacionadas com literatura, música, tradução e as outras duas ou três áreas do saber que me interessam. Passam-se muitos minutos sem qualquer outro gesto meu além do repetido movimento de apagar as postagens sobre política. No final, fica uma timeline tranquila, agradável, sem inquietações.

24/04/2016

segunda-feira, 11 de abril de 2016

"Aqui São Paulo", de Wanda Figueiredo (1971)


"em são paulo você consegue vender até livro até livro! ganhei dinheiro vendendo livro peguei uma pasta e fui de porta em porta" [p. 25]

"em são paulo naquela época nem automóvel existia as ruas não eram calçadas o viaduto do chá era de madeira pagava-se 2 vinténs para atravessar ah! são paulo antigo tem suas coisas interessantes! para se ir à praça da república levava-se um tempo enorme! era o local das touradas chamava-se largo dos curros curros era um lugar onde se transacionava gado a praça da república praticamente não existia" [p. 32]

"a gente nunca sabe quando são paulo entrou em vigor não tem história ela está sempre brincando de começar brincando de tradição [...] ela é cidade nova e velha não se define" [p. 94]

"o paulista tem mão de ferro sem luva de veludo ele tem a miséria que atrofia os órgãos todos os órgãos eu diria ele mede as ruas a pé" [p. 94]

"são paulo é um campo de batalha" [p. 95]

"há uma ligação entre o cimento e a gente" [p. 96]

"são paulo para mim não é um inferno é um misto de tudo um inferno tem seus paraísos" [p. 128]

"melhor do que ficar parada vendo a vida passar eu prefiro o rodamoinho em vez de ser espectadora vendo televisão no interior como um filme a vida dos outros ver os outros vivendo prefiro entrar na loucura toda" [p. 150]

"aridez de são paulo" [p. 167]

"uma psicóloga disse que essas manias que tenho de mato de morar no sertão é tudo fuga" [p. 186]

"grande província" [p. 202]

"tenho a impressão que o rio anhangabaú soterrado dá seiva para que são paulo cresça e são paulo ainda está em formação não deu ainda flores não está formada" [p. 219]

"livro não é cidade" [p. 230]

"o mundo é dos que caminham" [p. 230]

PESADELO


Este sonho só pode ser considerado um pesadelo, dado o número de vezes que a imagem do rosto de Michel Temer nele aparece. Temer já é o presidente da república, e lá estou eu, comparecendo a seu gabinete, pela primeira vez, para assumir a função de assessor de imprensa da presidência. Temer me recebe de maneira fria e formal, e junto com seus assessores dá início a uma espécie de ritual que naquele momento entendo ser um procedimento preliminar à minha iniciação no serviço. O ritual consiste no seguinte: sobre uma mesa retangular, coberta apenas por uma toalha de mesa, os assessores de Temer cerimonialmente começam a posicionar três objetos diferentes. Infelizmente não me recordo de quais eram os outros dois objetos [enquanto sonhava, quis me levantar para anotar esses detalhes, porém o caráter de pesadelo do sonho me manteve inerte na cama], mas com toda certeza um deles era uma pequena urna de cor cinza-azulada. De imediato eu [que já analisava o sonho dentro do sonho, enquanto sonhava] observo que não se trata de uma urna eleitoral, daquelas dos tempos pré-urna eletrônica, nas quais através de uma fresta se inseria o papel com o voto, mas de uma urna cinerária, das que são usadas para guardar as cinzas de um corpo cremado. Desse modo, meu ritual de ingresso no novo emprego tem um certo aspecto funerário. Quando os assessores enfim colocam a urna e os outros objetos na mesa, em posições rigorosamente equidistantes, Temer se volta para mim e faz o único gesto minimamente simpático de todo o sonho: pisca um olho e pergunta: “Foto?” Com isso entendo que ele me convida a posar, a seu lado, diante da mesa, para documentarmos o acontecimento. Mas não é isso o que Temer deseja: um pouco impaciente, ele gesticula para que todos se afastem e, segurando a câmera, encarrega-se ele próprio de fotografar a mesa com a urna e os outros dois objetos. Nesse momento eu percebo que para Temer as pessoas não têm a menor importância. Acordo.

Wladimir Cazé
10/04/2016

domingo, 10 de abril de 2016

OUTRO SONHO


Esse novo sonho foi mais confuso que o anterior, dele guardei menos detalhes. O cenário agora era o palácio da presidência do Paraguai. Ao chegarmos, eu e B. encontrávamos uma das entradas em péssimo estado de conservação: lixo, excrementos, restos de comida, maus odores, entulho, insetos, escuridão. Sabíamos que havia outras entradas no palácio, mas aquela era a que nos interessava, porque a informação turística que tínhamos era de que ela seria a “entrada da cultura”, local onde supostamente elementos da arte do país poderiam ser apreciados. Daí nossa enorme decepção ao encontrar o que deveria ser um símbolo da cultura do país em tal estado de descaso e abandono. Mesmo assim, insistimos em entrar por ali, com a ideia de tentar conversar com o presidente da república e convencê-lo a editar um “Ato constitucional” voltado à recuperação daquela parte do prédio e, por consequência, da cultura nacional (delírios de turista que já chega querendo interferir na vida local). Nisso estamos quando, de repente, “Lá vem o presidente”, vemos que ele se aproxima, mas nesse ponto eu desperto ou o sonho termina.

Wladimir Cazé
08/04/2016

sexta-feira, 8 de abril de 2016

UM SONHO

Tudo começa com uma frase lida numa revista: “Em 1985 a Rede Globo tentou dar um golpe e impedir a posse de Tancredo Neves”.
[Eu nunca soube antes de nenhuma informação parecida, mas ela não é inverossímil; se considerarmos que Tancredo realmente não foi empossado presidente, o suposto plano pode de fato ter se realizado.]
Depois da frase na revista, a cena do sonho acontece num edifício da Rede Globo, para onde um político ou jurista importante, aliado de Tancredo [se não o próprio Tancredo], é chamado para uma reunião com o poderoso Marinho de plantão, para discutir a situação política nacional. O político [ou jurista, ou Tancredo] vai à reunião disposto a resistir e expor a firme determinação do presidente eleito de assumir o governo a qualquer custo. Acompanhando o convidado, estão presentes outros políticos, alguns jornalistas (da Globo e de empresas concorrentes), entre eles – ainda como estudantes de jornalismo – eu e alguns colegas (reconheço vagamente Carlos Rocha).
A reunião acontece numa sala do prédio similar a um restaurante de luxo. Quando chegamos, o Marinho já está sentado numa poltrona, sozinho, fumando um charuto. Ele cumprimenta a todos com ar de superioridade e certa indiferença. Sente-se alguma tensão no ambiente. Querendo dar ao evento um tom sofisticado, o Marinho estala os dedos e pergunta a um de seus serviçais: “Fulano, nós temos aí a Carmen de Bizéti?”, e ordena: “Se tivermos, põe ela pra tocar”. A pronúncia equivocada do nome de Bizet provoca uma onda de hilaridade entre os políticos e jornalistas, mas todos seguram o riso temendo quebrar a solenidade da reunião. Porém uma mulher negra, representante do movimento negro, não se contém: “Desculpe, senhor. Nós ficamos muito tempo calados, mas agora eu não vou deixar de falar. O nome do compositor que o senhor acabou de citar não é Bizéti, é Bizet”. O Marinho não parece se abalar ao ter sua ignorância revelada em público e, com o mesmo ar de superioridade, passa à escolha dos pratos e das bebidas, novamente pronunciando palavras francesas duma maneira ridiculamente aportuguesada. O político [“Tancredo”] não dá atenção a isso, decidido a logo dar início à reunião. Mas o Marinho faz uma manobra que não entendo muito bem, troca umas poucas palavras em privado com “Tancredo” e dá a reunião por encerrada em dois minutos, antes mesmo que as bebidas e comidas cheguem à mesa, com isso de algum modo humilhando a todos os presentes, que são dispensados sumariamente.
Eu e meus colegas estudantes de jornalismo entramos no elevador para ir embora, e comentamos com indignação o que acaba de acontecer. “Um absurdo. Um idiota.” “Cuidado com o que fala aqui dentro, podemos estar sendo gravados.” “Não dá, pessoal. Temos que dar um jeito de entrar nessa profissão sem termos que trabalhar para gente assim.”
Com esse diálogo o sonho termina.
Wladimir Cazé
3 de março de 2016