sábado, 31 de dezembro de 2016

"São Paulo, Canaã dos paus-de-arara, a Xangrilá dos bóias-frias, bóia de salvação dos retirantes cubo-famélicos de Portinari" (p. 37) "São Paulo: que representaria para aqueles universitários da Boa-Terra, com certo verniz sofisticado, assistemáticos [...]? Uma porrada. Foi um soco de vida urbana capitalista moderna selva selvagem do Brasil." (p. 37) "MUNDO-ABRIGO é um jardim de veredas que se bifurcam. Fissura. Delírio ambulatório, MITOS VADIOS, o desejo errante" (p. 78) "São Cristóvão, o protetor dos viajantes, dos que transitam, dos que estão possuídos, dos que mudam de pele, dos mutantes" (p. 86)


quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

"estratégia de vida: mobilidade no EIXO rio são paulo bahia. viagens dentro e fora da BR." (p. 45) "NEW YORK - isto deve parecer provinciano mas não há outra forma de expressão: ir ao exterior." (p. 48) "Poeira do mundo. sem pouso. outros sertões. ontheroad." (p. 61) "nasci no interior do Brasil - minha dor é minha dívida de dinheiro - toda minha ação são peças jurídicas advogando meu direito à alimentação. campeio. batalho." (p. 80) "Bahia - paraíso pro inferno sem sal sem sol são paulistano." (p. 83) "dos cafundós da caatinga a lúcifer das cidades" (p. 165) "e refazer o périplo no sentido inverso" (p. 165)

segunda-feira, 22 de agosto de 2016


"A nadie le interesa ni la literatura, ni la historia, ni nada que tenga que ver con el pensamiento o con las humanidades [...]. Y todavía hay despistados que llaman 'nación' a este sitio, un sinsentido, una estupidez que daría risa si no fuera por lo grotesco: cómo pueden llamar 'nación' a un sitio poblado por individuos a los que no les interesa tener historia ni saber nada de su historia, un sitio poblado por individuos cuyo único interés es imitar a los militares y ser administradores de empresas [...]"


Horacio Castellanos Moya, "Asco"

segunda-feira, 25 de julho de 2016


"Teias de aranha. [...] Teia de aranha. [...] Curioso como se assemelha aos desenhos de certas mandalas. Espaço mítico. Homem também cria espaços míticos, por que não aranha? Cidades, por exemplo. A princípio, sonho de homem, lugar onde pôr para fora deuses e demônios, mas depois cidade física prende, homem fica como inseto em teia de aranha." (p. 109)

Mario Levrero, "Deixa comigo"
{tradução Joca Reiners Terron}

terça-feira, 19 de julho de 2016


“ando numa boa e na vadiagem mais uma vez & nada tenho a fazer senão perambular” (p. 14)

“tudo é um grande e estranho sonho” (p. 52)

“A via férrea se revelava por inteiro, cada vez mais vasta e vasta, [...] muito além dos limites do mundo, e também perfura um buraco profundo na mente de um homem” (p. 91-92)

“o espectro e o horror de um homem que outrora foi um bebê rosado e agora é um fantasma aterrorizante na enlouquecedora noite surrealista das cidades, rostos esquecidos, dinheiro jogado fora, comida jogada fora, bebidas, bebidas, bebidas, as milhares de conversas ruminadas na obscuridade.” (p. 114)

“Na América houve sempre [...] uma ideia especial e definida da liberdade que significa andar a pé [...] se deslocando de cidade em cidade, de estado em estado, em direção à eventual sina dos becos periféricos das grandes cidades quando seus pés entregam os pontos.” (p. 208)

KEROUAC, Jack. Viajante solitário. L&PM, 2006.
[tradução de Eduardo Bueno]

quinta-feira, 14 de julho de 2016


“[...] pulsação rítmica evocando os ritmos próprios da vida, a metáfora do batimento primordial do coração e do sexo, o beat essencial. [...] forma livre, improvisada, improvável [...]” (p. 53)

“Paixão pela palavra, pela imagem, pela prosódia musical, paixão pelo sexo, sacralização do instante presente, errância no esoterismo da tradição que é a terra amassada do passado, de tudo isso a geração beat está carregada.” (p. 87)

“[...] a dura lei da viagem tal como tinha imaginado: despesa mínima, recurso à carona ao acaso, partilha das horas com desconhecidos, mas, sobretudo, liberdade e disponibilidade em busca da pulsação viva da América.” (p. 105)

“[...] suas viagens reais não são senão coleções de miniacontecimentos e manifestações de pouco risco. Não têm a envergadura das que serão empreendidas por Burroughs e Ginsberg, que aliarão deslocamento geográfico, sedentarização longe dos Estados Unidos e experiência interior.” (p. 115)

“De início é sobre os mapas que ele começa, é através dos relatos que ele viaja.” (p. 117)


BUIN, Yves. Kerouac. L&PM, 2007.
[tradução de Rejane Janowitzer]

quinta-feira, 7 de julho de 2016


“por sonhos se entenda o que se enxerga durante o sono – e não o que se deseja nos devaneios diurnos.” (p. 69)
“Tão vastos e intemporais, os acontecimentos brotam de algum centro mais intenso, formando vagos pontos distantes, só para serem encontrados de novo, quando os núcleos e os universos se deslocam para outros sonhos.” (p. 73-74)
“que coisa mais estranha a realidade do mundo desolado e infinito, que não tem destino, significado, nem centro” (p. 77)
“A América [...] é em si mesma um sonho” (p. 129)
“O centro do interesse do sonho só pode ser recapitulado uma vez e por isso também só dá para ser transcrito em seguida [...] porque, ao lembrar e anotar mentalmente, o cérebro logo entorpece e não é mais possível agilizá-lo” (p. 133)
“tudo, tudo irreal, sonhos” (p. 137)
“num cérebro momentaneamente em repouso indigente” (p. 139)
“por algum motivo [...], a coisa toda não consegue chegar em detalhe à minha percepção” (p. 141)
“os sonhos mais fantásticos, e complexos, são irrecuperáveis para o cérebro comum que acorda de manhã” (p. 168)
“O inseto provavelmente era eu.” (p. 168)
“AO ANOTAR OS SONHOS, REPARE NA MANEIRA COMO A CABEÇA SONHADORA INVENTA” (p. 175)  
[tradução de Milton Persson]

quarta-feira, 29 de junho de 2016

leitura de "Microafetos" por Ronald Augusto


"o exoesqueleto da métrica infusa no inseto áporo do verso
jamais livre jamais abandonado ao capricho da mera
rixa com o caro virtuosismo pós-cabralino"


[trecho do poeta e crítico Ronald Augusto em suas anotações de leitura de MICROAFETOS, cuja íntegra pode ser lida em se clicando aaqquuii.]

segunda-feira, 27 de junho de 2016

entrevista

Karine "Thompson" Alves é uma ávida leitora de 18 anos que mora em Piúma (ES). Em seu Blog da Kah ela vem entrevistando alguns escritores com cujos livros teve contato. Aqui estão as respostas que enviei.

domingo, 5 de junho de 2016

POESIA CONTRA O GOLPE


pra baixar grátis [em PDF]: https://drive.google.com/file/d/0B7PowsNW2tItaXNoUG5TYldlU0U/view?pref=2&pli=1

antologia "OSSO DE ESCREVER: literatura em tempo de barbárie", com textos de Caê Guimarães, Aline Dias, Lucas Dos Passos, Sarah Vervloet, Barbara Depiantti, Janio Silva, Marília Carreiro, Orlando Lopes, Rodrigo Caldeira, Saskia Sa, Wagner Silva Gomes e Wladimir Cazé.
Essa é uma ação do movimento Cultura sem temer – ES. Artistas e produtores culturais, poetas e escritores, contra o autointitulado "governo interino” e o estado de exceção presidido por Michel Temer.

‪#‎foraTemer‬ ‪#‎ocupaMinC‬
‪#‎culturasemtemer‬ #foratemer #ocupaminc ‪#‎casinhadaresistencia‬

Link pra baixar "OSSO DE ESCREVER": https://drive.google.com/file/d/0B7PowsNW2tItaXNoUG5TYldlU0U/view?pref=2&pli=1

quinta-feira, 2 de junho de 2016


E publico mais um artigo acadêmico, novamente em parceria com minha orientadora no mestrado Maria Mirtis Caser, desta vez na “CONTEXTO”, revista do Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A edição nº 29, referente a 2016-1 (http://www.periodicos.ufes.br/contexto/issue/view/639), traz um dossiê sobre “Dom Quixote”, a obra-prima de Cervantes, com artigos de pesquisadores brasileiros e especialistas estrangeiros – Howard Mancing (EUA) e Lola Esteva de Llobet (Espanha). Nosso texto se intitula “‘Del donoso y grande escrutinio’: crítica literária e Inquisição em um capítulo do Quijote (I, 6)” e analisa o diálogo entre o cura e o barbeiro da aldeia a respeito das 23 obras literárias (livros de cavalaria, epopeias e cancioneiros e novelas pastoris) citadas na cena da “perícia” feita por eles na biblioteca de Alonso Quijano, e cuja leitura o levara a perder o juízo e tornar-se o Cavaleiro da Triste Figura.

Palavras-chave: Literatura maneirista. Cervantes. Quixote. Crítica literária. Inquisição espanhola.

Link para a “CONTEXTO” nº 29: http://www.periodicos.ufes.br/contexto/issue/view/639

Link direto pra nosso artigo: http://www.periodicos.ufes.br/contexto/article/view/13319

terça-feira, 24 de maio de 2016

resenha de "Microafetos", por Roberto Amaral



"À vera, o efeito que a leitura desse breve bestiário poético me causou foi o drolático. Sim, pilhei-me rindo por diversas vezes dos versos que compõem essa micropoética cazeana."

[trecho da micro-resenha de MICROAFETOS assinada pelo professor e escritor Roberto Amaral (
UFVJM), que pode ser lida na íntregra em se clicando aaqquuii.]

domingo, 15 de maio de 2016


"First you take a drink,
then the drink takes a drink,
then the drink takes you
."
F. Scott Fitzgerald

Hoje eu vou virar drink, junto com Sarah Vervloet,Rodrigo CaldeiraAnderson BardotSergio Luiz Blank, Tiago Zanoli, Saskia SaIzabela Orlandi e vários outros escritores do Espírito Santo. Venha nos beber no Hostel Guanaaní Hostel, das 15h às 21h. O Guanaaní fica no centro de Vitória, na Rua Coronel Monjardim, 49.

terça-feira, 10 de maio de 2016


Saiu - para download gratuito - o livro Quebras – Uma viagem literária pelo Brasil, organizado por Marcelino Freire e Jorge Ialanji Filholini, lançado em novembro de 2015 e contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural 2014-2015.

O livro resulta do projeto que visitou 15 capitais brasileiras em busca de escritores e artistas fora do eixão Rio-São Paulo-Porto Alegre-Curitiba-Salvador-Recife-Belo Horizonte-Fortaleza. As cidades visitadas pelo Quebras foram capitais com presença relativamente menor no panorama literário nacional: Teresina, Belém, Vitória, Rio Branco, Maceió, Macapá, Manaus, Goiânia, São Luís, Cuiabá, Campo Grande, Porto Velho, Boa Vista, Aracaju e Palmas.

O livro contém crônicas de Marcelino e Jorge sobre suas descobertas e memórias durante a aventura, além de uma antologia com textos de alguns escritores que a dupla conheceu pelo caminho. Participo, na página 26, com "O poema inacabado". Também estão no livro Antônio Moura, Bruno Azevêdo, Demétrios Galvão, Diego Moraes, Douglas Diegues e Waldo Motta, entre outros nomes.

Link para o livro: https://livreopiniaoportal.files.wordpress.com/2016/05/quebras-uma-viagem-literc3a1ria-pelo-brasil.pdf

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Saulo Ribeiro recomenda MICROAFETOS

nesse bloco do programa "Espaço 2" da TVE-ES, o escritor e editor Saulo Ribeiro fala sobre meu livro MICROAFETOS e sobre o romance "Chorume", de Tiago Zanoli. em seguida vem uma reportagem sobre o lançamento das obras literárias editadas pela Secult-ES, ocorrido no dia 19 de abril

terça-feira, 26 de abril de 2016

NOVO SONHO


O sonho me pareceu longo mas foi bastante repetitivo, podendo por isso ser descrito em poucas linhas. Estou na frente do computador, cuidando de apagar uma por uma todas as postagens do meu mural que tenham a ver com a crise política e deixando no ar apenas aquelas relacionadas com literatura, música, tradução e as outras duas ou três áreas do saber que me interessam. Passam-se muitos minutos sem qualquer outro gesto meu além do repetido movimento de apagar as postagens sobre política. No final, fica uma timeline tranquila, agradável, sem inquietações.

24/04/2016

segunda-feira, 11 de abril de 2016

"Aqui São Paulo", de Wanda Figueiredo (1971)


"em são paulo você consegue vender até livro até livro! ganhei dinheiro vendendo livro peguei uma pasta e fui de porta em porta" [p. 25]

"em são paulo naquela época nem automóvel existia as ruas não eram calçadas o viaduto do chá era de madeira pagava-se 2 vinténs para atravessar ah! são paulo antigo tem suas coisas interessantes! para se ir à praça da república levava-se um tempo enorme! era o local das touradas chamava-se largo dos curros curros era um lugar onde se transacionava gado a praça da república praticamente não existia" [p. 32]

"a gente nunca sabe quando são paulo entrou em vigor não tem história ela está sempre brincando de começar brincando de tradição [...] ela é cidade nova e velha não se define" [p. 94]

"o paulista tem mão de ferro sem luva de veludo ele tem a miséria que atrofia os órgãos todos os órgãos eu diria ele mede as ruas a pé" [p. 94]

"são paulo é um campo de batalha" [p. 95]

"há uma ligação entre o cimento e a gente" [p. 96]

"são paulo para mim não é um inferno é um misto de tudo um inferno tem seus paraísos" [p. 128]

"melhor do que ficar parada vendo a vida passar eu prefiro o rodamoinho em vez de ser espectadora vendo televisão no interior como um filme a vida dos outros ver os outros vivendo prefiro entrar na loucura toda" [p. 150]

"aridez de são paulo" [p. 167]

"uma psicóloga disse que essas manias que tenho de mato de morar no sertão é tudo fuga" [p. 186]

"grande província" [p. 202]

"tenho a impressão que o rio anhangabaú soterrado dá seiva para que são paulo cresça e são paulo ainda está em formação não deu ainda flores não está formada" [p. 219]

"livro não é cidade" [p. 230]

"o mundo é dos que caminham" [p. 230]

PESADELO


Este sonho só pode ser considerado um pesadelo, dado o número de vezes que a imagem do rosto de Michel Temer nele aparece. Temer já é o presidente da república, e lá estou eu, comparecendo a seu gabinete, pela primeira vez, para assumir a função de assessor de imprensa da presidência. Temer me recebe de maneira fria e formal, e junto com seus assessores dá início a uma espécie de ritual que naquele momento entendo ser um procedimento preliminar à minha iniciação no serviço. O ritual consiste no seguinte: sobre uma mesa retangular, coberta apenas por uma toalha de mesa, os assessores de Temer cerimonialmente começam a posicionar três objetos diferentes. Infelizmente não me recordo de quais eram os outros dois objetos [enquanto sonhava, quis me levantar para anotar esses detalhes, porém o caráter de pesadelo do sonho me manteve inerte na cama], mas com toda certeza um deles era uma pequena urna de cor cinza-azulada. De imediato eu [que já analisava o sonho dentro do sonho, enquanto sonhava] observo que não se trata de uma urna eleitoral, daquelas dos tempos pré-urna eletrônica, nas quais através de uma fresta se inseria o papel com o voto, mas de uma urna cinerária, das que são usadas para guardar as cinzas de um corpo cremado. Desse modo, meu ritual de ingresso no novo emprego tem um certo aspecto funerário. Quando os assessores enfim colocam a urna e os outros objetos na mesa, em posições rigorosamente equidistantes, Temer se volta para mim e faz o único gesto minimamente simpático de todo o sonho: pisca um olho e pergunta: “Foto?” Com isso entendo que ele me convida a posar, a seu lado, diante da mesa, para documentarmos o acontecimento. Mas não é isso o que Temer deseja: um pouco impaciente, ele gesticula para que todos se afastem e, segurando a câmera, encarrega-se ele próprio de fotografar a mesa com a urna e os outros dois objetos. Nesse momento eu percebo que para Temer as pessoas não têm a menor importância. Acordo.

Wladimir Cazé
10/04/2016

domingo, 10 de abril de 2016

OUTRO SONHO


Esse novo sonho foi mais confuso que o anterior, dele guardei menos detalhes. O cenário agora era o palácio da presidência do Paraguai. Ao chegarmos, eu e B. encontrávamos uma das entradas em péssimo estado de conservação: lixo, excrementos, restos de comida, maus odores, entulho, insetos, escuridão. Sabíamos que havia outras entradas no palácio, mas aquela era a que nos interessava, porque a informação turística que tínhamos era de que ela seria a “entrada da cultura”, local onde supostamente elementos da arte do país poderiam ser apreciados. Daí nossa enorme decepção ao encontrar o que deveria ser um símbolo da cultura do país em tal estado de descaso e abandono. Mesmo assim, insistimos em entrar por ali, com a ideia de tentar conversar com o presidente da república e convencê-lo a editar um “Ato constitucional” voltado à recuperação daquela parte do prédio e, por consequência, da cultura nacional (delírios de turista que já chega querendo interferir na vida local). Nisso estamos quando, de repente, “Lá vem o presidente”, vemos que ele se aproxima, mas nesse ponto eu desperto ou o sonho termina.

Wladimir Cazé
08/04/2016

sexta-feira, 8 de abril de 2016

UM SONHO

Tudo começa com uma frase lida numa revista: “Em 1985 a Rede Globo tentou dar um golpe e impedir a posse de Tancredo Neves”.
[Eu nunca soube antes de nenhuma informação parecida, mas ela não é inverossímil; se considerarmos que Tancredo realmente não foi empossado presidente, o suposto plano pode de fato ter se realizado.]
Depois da frase na revista, a cena do sonho acontece num edifício da Rede Globo, para onde um político ou jurista importante, aliado de Tancredo [se não o próprio Tancredo], é chamado para uma reunião com o poderoso Marinho de plantão, para discutir a situação política nacional. O político [ou jurista, ou Tancredo] vai à reunião disposto a resistir e expor a firme determinação do presidente eleito de assumir o governo a qualquer custo. Acompanhando o convidado, estão presentes outros políticos, alguns jornalistas (da Globo e de empresas concorrentes), entre eles – ainda como estudantes de jornalismo – eu e alguns colegas (reconheço vagamente Carlos Rocha).
A reunião acontece numa sala do prédio similar a um restaurante de luxo. Quando chegamos, o Marinho já está sentado numa poltrona, sozinho, fumando um charuto. Ele cumprimenta a todos com ar de superioridade e certa indiferença. Sente-se alguma tensão no ambiente. Querendo dar ao evento um tom sofisticado, o Marinho estala os dedos e pergunta a um de seus serviçais: “Fulano, nós temos aí a Carmen de Bizéti?”, e ordena: “Se tivermos, põe ela pra tocar”. A pronúncia equivocada do nome de Bizet provoca uma onda de hilaridade entre os políticos e jornalistas, mas todos seguram o riso temendo quebrar a solenidade da reunião. Porém uma mulher negra, representante do movimento negro, não se contém: “Desculpe, senhor. Nós ficamos muito tempo calados, mas agora eu não vou deixar de falar. O nome do compositor que o senhor acabou de citar não é Bizéti, é Bizet”. O Marinho não parece se abalar ao ter sua ignorância revelada em público e, com o mesmo ar de superioridade, passa à escolha dos pratos e das bebidas, novamente pronunciando palavras francesas duma maneira ridiculamente aportuguesada. O político [“Tancredo”] não dá atenção a isso, decidido a logo dar início à reunião. Mas o Marinho faz uma manobra que não entendo muito bem, troca umas poucas palavras em privado com “Tancredo” e dá a reunião por encerrada em dois minutos, antes mesmo que as bebidas e comidas cheguem à mesa, com isso de algum modo humilhando a todos os presentes, que são dispensados sumariamente.
Eu e meus colegas estudantes de jornalismo entramos no elevador para ir embora, e comentamos com indignação o que acaba de acontecer. “Um absurdo. Um idiota.” “Cuidado com o que fala aqui dentro, podemos estar sendo gravados.” “Não dá, pessoal. Temos que dar um jeito de entrar nessa profissão sem termos que trabalhar para gente assim.”
Com esse diálogo o sonho termina.
Wladimir Cazé
3 de março de 2016

quarta-feira, 23 de março de 2016

mais um artigo publicado, agora em (Re)Visões do Fantástico: do centro às margens; caminhos cruzados (anais do II Congresso Internacional Vertentes do Insólito Ficcional, realizado em 2014 na UERJ). o trabalho se intitula "De máscaras e traduções: comentários a uma tradução do conto "La máscara", de Emilia Pardo Bazán" e foi escrito a 4 mãos com minha querida orientadora Maria Mirtis Casero PDF do livro está disponível para acesso e download grátis em:http://www.dialogarts.uerj.br/…/arquivos_tfc…/anais_2014.pdf. A publicação traz diversos estudos sobre autores como Clarice Lispector, Shakespeare, Murilo Rubião, Eça de Queirós, Aleilton Fonseca, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna, Gilberto Freyre, Bioy Casares, Guimarães Rosa, Lourenço Mutarelli e Antonin Artaud, entre outros.

nosso artigo está entre as páginas 750 e 765.
título do artigo: "De máscaras e traduções: comentários a uma tradução do conto "La máscara"
palavras-chave: Emilia Pardo Bazán. Conto fantástico. Tradução literária. Tradução comentada.