"Em Nova York, onde vivi quase um ano, a maior coisa que vi foi 'una gota de sangre de pato bajo las multiplicaciones'. No ano que estive lá saíra o livro de Lorca Poeta en Nueva York. Comprei o livro e lá encontrei esse verso da gota de sangue de pato. Madrugada de boemia, o poeta, sob arranha-céus, vira, no asfalto, a gota. Era uma coisa ínfima, mas que cresceu em sua emoção aquela madrugada. Seria a coisa mais infinita para o poeta naquela hora. Por toda a minha temporada naquela cidade, a mim me pareceu também a coisa mais soberba." (p. 62)
Manoel de Barros, "Encontros", organização Adalberto Müller, Azougue, 2011)
"Em Nova York fui estudar cinema e artes plásticas. Aproveitei para fazer coisa nenhuma. Andei à toa pelas ruas, roçando nas paredes, me sentindo um verminho no meio de tantos arranha-céus. Essa de sentir-se ínfimo é típica de pessoas sem rumo. E eu era sem rumo. Flanei por ruas. Andei de mar, de rio e de a pé. Estava bem protegido pelo abandono. Pude ver formas, cores e pentelhos. (...) Voltei para casa tranquilo." (p. 101)
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Impressões do escritor e jornalista espanhol Julio Camba (1882-1962) em sua segunda viagem aos Estados Unidos (1929-30). Extraído da página 57 do recém-lançado "Realidade em perspectivas: artigos de Julio Camba sobre a Espanha da primeira metade
do século XX", de Edna Parra Candido (Opção Editora, 2012)
O Grav - Grupo de Estudos Audiovisuais, projeto de extensão do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), iniciou no mês passado
um quadro sobre cinema e televisão no programa "#Tardes Infinitas", da rádio Universitária/Vitória (104.7 FM). O programa do dia último dia 2 de julho foi sobre Rainer Werner Fassbinder. Ao final do programa, o integrante do grupo Flávio Bastos recitou "Os olhos de Fassbinder”, poema do espanhol de origem inglesa Roger Wolfe, numa tradução que fiz a pedido do Grav. Abaixo, o texto original do poema, juntamente com minha tradução (que já passou por algumas alterações em relação ao texto lido na rádio).
A propósito: em breve publicarei neste blog outros poemas de Wolfe que acabei traduzindo depois. Também pretendo publicar por aqui poemas de hispanoamericanos que venho traduzindo na surdina, como umtriplo exercício: no idioma espanhol, na escrita poética e no ofício tradutório.
Para ouvir o programa na íntegra (a tradução do poema encontra-se a partir de 18'):
poema de Roger Wolfe del poemarioArde Babilonia, Visor editorial, España, 1994
Tus ojos exhaustos, Rainer, de la vida
- cuyo color ignoro o no recuerdo -
ese mostacho,
la barba rala,
el rostro tierno, tumefacto,
por el tiempo malo y sus desmanes,
me contemplan desde esa foto en blanco y negro,
y debajo la leyenda
en un idioma
que habló mi bisabuelo: Dichter Schauspieler Filmemacher.
Poeta de la polla y de la mierda,
monstruo, vándalo, arcángel, niño
de mirada incrédula y pasmada,
fantasma encharcado de alcohol
y de heroína,
amado padre, hermano, ramera, maricona,
todos
nos llamamos
como tú.
OS OLHOS DE FASSBINDER
Tradução: Wladimir Cazé
Seus olhos exaustos da vida, Rainer
- olhos cuja cor ignoro ou não recordo -
esse bigode,
a barba rala,
o rosto terno, inchado
pelo tempo ruim e por seus desenganos
me contemplam desde esta foto em preto e branco
e embaixo a legenda
num idioma
que meu bisavô falava: Dichter Schauspieler Filmemacher
Poeta da pica e da merda,
monstro, vândalo, arcanjo, menino
de olhar incrédulo e pasmo,
fantasma encharcado de álcool
e de heroína,
amado pai, irmão, prostituta, bichona,
todos
temos o mesmo nome
que você.
domingo, 22 de julho de 2012
"Quando nós saímos de nosso interior(...), de cultura oral, nós saímos de um mundo pré-gutemberguiano. E chegamos aqui, (...) e encontramos um mundo que começava a ser pós-gutemberguiano, onde já se podia prescindir do alfabeto por causa do mundo da telemática, da televisão, do cartaz, de outras linguagens que não era a linguagem escrita. Então nós(...)demos um salto na história de 600 anos e viemos cair nesse mundo." (p. 55)
Tom Zé, entrevista a Isabela Larangeira, 1990, publicada em "Tom Zé - Encontros", organização Heyk Pimenta, Azougue, 2011)
"Quando cheguei aqui tava um calor, era 11 de agosto de 1965, um calor! Me levaram à praça Roosevelt, que não tinha nada, era só calçamento e saía aquele negócio assim que entortava a visão, sabe como é? Parecia o Nordeste, a praça Roosevelt!" (p. 135)
Tom Zé, entrevista à revista "Caros amigos", 1999, publicada em "Tom Zé - Encontros", id., ibid.)
Local da praça Roosevelt, anos 1960 Crédito da foto: aqui
Início das obras de construção da praça Roosevelt, fevereiro de 1968 Crédito da foto: aqui
Obras de construção da praça Roosevelt, julho de 1968 Crédito da foto: aqui
Inauguração da praça Roosevelt, 25 de janeiro de 1970 Crédito da foto: aqui
Vista vertical mostrando trecho da Ligação Leste-Oeste sob a Praça Roosevelt Crédito da foto: aqui
poesia, Secult/ES, 2015, 2ª ed., 61 páginas. Preço: R$ 15. Compre diretamente com o autor: wladimircaze@gmail.com
"Macromundo"
poesia, editora Confraria do Vento, 2010, ilustrações de Iansã Negrão, posfácio de Sandro Ornellas. Preço: R$ 20. Compre diretamente com o autor: wladimircaze@gmail.com
Vetoré um projeto de poesia eletroestocástica de Wladimir Cazé (textos) e Heitor Dantas (música). Ouça três poemas do livro "Macromundo"em versões sonorizadas (“Caracol”, “Barata” e“Valsa”).
"Poemas rupestres", de Manoel de Barros (Record, 2004)
"O ar das cidades, de Sérgio Alcides (Ed. Nankim, 2000) "Trabalhos do corpo e outros poemas físicos", de Sandro Ornellas (LetraCapital, 2007): parte 1 + parte 2
Autor de "Macromundo" (poesia, 2010), "Microafetos" (poesia, 2005), "A filha do Imperador que foi morta em Petrolina" (cordel, 2004) e "ABC do Carnaval" (cordel, 2009).
Participei do 4º Mayo de Las Letras, em San Miguel de Tucumán, Argentina (2008), e do 13º Festival Internacional de Poesía, em Cartagena de Índias, Colombia (2009), entre outros eventos literários no Brasil.