quinta-feira, 28 de abril de 2011

Começa hoje em Porto Alegre a 4ª edição da FestiPOA - Festival Literário de Porto Alegre, que vai até 8 de maio, com vasta programação de painéis, debates, saraus, oficinas, exposições, espetáculos, lançamentos de livros, sessões de autógrafos e shows, em vários endereços da cidade.

No sábado, 7 de maio
, acontece o lançamento da coletânea “O melhor da festa volume três” (Casa Verde, 264 páginas, R$ 25,00), que reúne poemas, contos, crônicas, cartuns e tiras inéditas de 71 autores, entre participantes da 3ª edição do evento (em abril de 2010) e outros que estão na FestiPOA 2011. A sessão de autógrafos ocorre a partir das 21h, na Casa de Teatro - Rua Garibaldi, 853, Independência, tel.: (51) 3029-9292.

Mandei para os editores dois textos, "O poema inacabado" (já publicado neste blog há alguns meses) e outro poema inédito (que postarei aqui em breve). Como meu exemplar ainda não chegou, não sei qual dos dois foi escolhido para o livro, ou se ambos estão nele.

Lista completa de participantes da coletânea "O melhor da festa volume três": Adão Iturrusgarai, Ademir Assunção, Alexandre Rodrigues, Altair Martins, Amilcar Bettega, Antonio Carlos Secchin, Antonio Cicero, Antônio Xerxenesky, Andréia Laimer, Augusto Paim, Bárbara Lia, Carlos André Moreira, Cardoso, Carlos Gerbase, Carlos Pessoa Rosa, Cássio Pantaleoni, Claudia Tajes, Cristian De Nápoli, Daniel Weller, Diego Petrarca, Douglas Diegues, E. M. de Melo e Castro, Everton Behenck, Flávio Wild, Guilherme Orosco, Guto Leite, Henrique Rodrigues, Henrique Schneider, Horacio Fiebelkorn, Jacob Klintowitz, Jeferson Tenório, João Gilberto Noll, Jorge Fróes, Laerte, Laís Chaffe, Leandro Dóro, Liana Timm, Lima Trindade, Lúcia Rosa, Luciana Thomé, Luís Dill, Luís Serguilha, Luiz Paulo Faccioli, Marcelo Spalding, Márcia Denser, Maria Rezende, Marcelo Sahea, Marlon de Almeida, Monique Revillion, Nei Lopes, Nelson de Oliveira, Nicolas Behr, Olavo Amaral, Paulo Ribeiro, Pena Cabreira, Ramon Mello, Reginaldo Pujol Filho, Reynaldo Bessa, Ricardo Silvestrin, Rodrigo Bittencourt, Rodrigo dMart, Rodrigo Rosp, Ronald Augusto, Sandro Ornellas, Sergio Faraco, Simone Campos, Tailor Diniz, Virna Teixeira, Wilmar Silva, Wladimir Cazé, Xico Sá.

Nota complementar: Em 2009, publiquei na revista eletrônica Verbo 21 uma resenha sobre o primeiro volume da série "O melhor da festa" (Nova Roma, 2009). O link para o texto está aqui.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

A ilha de Vitória na escrita noir de Saulo Ribeiro

“(...) no trânsito parado as pessoas lembram de tudo o que gostariam de esquecer. Daí o desespero cotidiano nas grandes metrópoles. Ele não é motivado pela velocidade, mas pela lentidão que nos permite ver e lembrar um mundo que tem perdido a graça e cujas qualidades residem nas possibilidades de fuga consentidas (...)”

(Saulo Ribeiro, “Ponto morto”, ps. 78-79)

A ilha de Vitória que aparece nos dois livros solo de Saulo Ribeiro – “Diana no Natal” (contos, Ed. Cousa) e “Ponto morto” (novela, Secult/ES), ambos lançados no último trimestre de 2010 – é um lugar sombrio, povoado por figuras marginalizadas e onde “condutas tipificadas pela lei como crimes” (“Ponto morto”, p. 15) estão sempre prestes a eclodir. Os narradores-personagens masculinos dos contos e da novela compartilham uma continuidade psicológica e discursiva que lhes permite ser abordados, neste breve comentário sobre o trabalho do escritor capixaba, como um só narrador-personagem: Luca Bandit, advogado de porta de cadeia autodefinido como “um machistazinho adorável” (“Diana...”, p. 39), “de índole vagabunda e personalidade contraventora” (“Diana...”, p. 56), “criado em meio ao coronelismo tardio do norte capixaba” (“Diana...”, p. 39).

Os contos curtos de “Diana...” montam um pequeno painel noir de Vitória, com a escolha do centro antigo como cenário quase exclusivo, a caracterização de uma cidade invariavelmente chuvosa e histórias que transcorrem à noite – quando pouco se enxerga além dos “guindastes do porto vistos por uma fresta entre dois prédios” (p. 66). É significativo que as capas dos dois livros são pretas e trazem cenas de chuva. A atmosfera noir da escrita de Saulo Ribeiro fica evidente logo no primeiro texto de “Diana...”: “Eu me sentia bem no escuro e patético na luz, invariavelmente" (p. 18).

Só no último texto do livro (“Tardes de píer”) a perspectiva tem uma ligeira mudança e o olhar, antes confinado ao ambiente opressivo da ilha, se volta para fora dela, buscando vislumbrar o horizonte e o mar. Se a noite se faz bastante presente nas páginas de “Diana...”, nesta página (p. 75) o narrador-personagem fala numa “manhã de estrada, ensaio de viagem” e diz que “O sol queria fazer sentido”.

Em “Ponto morto” esse olhar para fora de Vitória é ampliado à medida que o narrador-personagem circula por uma maior variedade de espaços: ele percorre a região metropolitana, no entorno da capital (Serra, Vila Velha, Cariacica, Guarapari), e, inversamente, se entranha de modo mais profundo à ilha, em incursões a comunidades dos morros e à “Baía Noroeste”. Um traço marcante em ambos os livros é o fato de que o observador que apreende a paisagem urbana está constantemente em movimento: a bordo de um carro, em caminhadas a pé pelas ruas ou em giros a esmo numa motocicleta em alta velocidade – comportamento à beira do autodestrutivo, que exprime, em grau máximo, a “vontade de partir” (“Ponto morto”, p. 93) de uma cidade onde os engarrafamentos ganham proporções gigantescas e até “os bichos (...) estão enlouquecendo” ("Ponto morto", p. 39).

Tal desejo de evasão do caos urbano é às vezes apenas sugerido e em outros momentos manifestado de maneira explícita, sendo direcionado tanto a um retorno impossível ao interior do Espírito Santo – na direção do centro originário da história pessoal de Luca Bandit ("Eu nunca deveria ter saído da roça e trocado tudo pelo sentimento portuário, essa é a verdade", p. 55 de "Ponto morto") –, quanto, centrifugamente, dirigindo-se a outros paradeiros possíveis (dos quais o mar e o porto de Vitória são símbolos recorrentes, concretizados, afinal, na megametrópole portuária terceiromundista para onde o personagem decide viajar no desfecho da novela).

O texto integral de “Diana no Natal” está disponível para leitura neste link (ou abaixo). Para adquirir as versões impressas de “Diana no Natal” e “Ponto morto”,
entre em contato com Saulo Ribeiro ou com a Ed. Cousa
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terça-feira, 19 de abril de 2011

"Um número notavelmente elevado de nossas povoações está voltado para o oeste e, onde as circunstâncias permitem, deslocam-se nessa mesma direção. O leste equivale a ausência de perspectiva. Sobretudo na época da colonização do continente americano, era de notar como as cidades se desdobravam para o oeste enquanto seus próprios distritos orientais se reduziam a ruínas. No Brasil, até hoje províncias inteiras se extinguem como fogo quando a terra se esgota por excesso de cultivo e novas áreas a oeste são abertas. (...) nesse eixo se polarizam infalivelmente bem-estar e miséria."

W. G. Sebald, in: "Os anéis de Saturno - Uma peregrinação inglesa", tradução de José Marcos Macedo. Companhia das Letras, p. 161

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Não sei se não tenho nada a dizer, sei que não digo nada; não sei se o que teria a dizer não é dito por ser indizível (o indizível não está escondido na escrita, é aquilo que muito antes a desencadeou); sei que o que digo é branco, é neutro, é signo de uma vez por todas de um aniquilamento de uma vez por todas.”

(Georges Perec, “W ou a memória da infância”, tradução de Paulo Neves, Companhia das Letras, 1995, p. 54)


Perec desenvolve em “W ou a memória da infância” (lançado em 1975) uma experiência textual de entrelaçamento de suas lembranças de infância (na França ocupada da II Guerra) e duas narrativas ficcionais remotamente interrelacionadas (uma das quais, a segunda, é a reconstituição de uma história escrita pelo autor aos 13 anos, depois perdida e quase esquecida, e que trata, com verve alegórico-fantástica, de uma “sociedade preocupada apenas com o esporte, numa ilhota da Terra do Fogo”, p. 14). A composição heteróclita de “W” aponta para uma reflexão sobre os vazios e as lacunas deixados pelo tempo na memória individual e que são preenchidos pelo imaginário na elaboração de nossa história pessoal – aspecto do livro destacado pelas inúmeras notas (com correções, emendas e acréscimos) justapostas pelo próprio autor ao relato de sua infância e da separação e perda dos pais (o pai, aos quatro anos; a mãe, aos seis). A essa reinvenção da memória pela escritura corresponde, no plano estritamente ficcional da obra, o procedimento da súbita interrupção do “romance de aventuras” da primeira parte (narrado por um homem que adota o passaporte e a identidade de outro, após ter desertado do exército durante uma guerra), que “começa contando uma história e, de repente, se lança numa outra”, numa “fratura que suspende a narrativa em torno de não se sabe qual expectativa” (como indica Perec na nota sem título que abre o volume).

Agradeço a descoberta desse livro a Mayrant Gallo, fonte infalível de boas sugestões de leitura